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Sinagoga Espírita Nova Jerusalém

Fundada em 1916 por Antônio J. Trindade

Antônio José Trindade - História


Em 23 de julho de 1882 na Freguesia semi-urbana de Loureiro, Portugal, nasce Antônio José Trindade, um dos grandes vultos do espiritismo, fundador e guia espiritual desta Casa.

Viveu e trabalhou com seus pais em Loureiro onde foi criado e educado sob os preceitos da Igreja Católica Apostólica Romana até atingir a idade de prestar serviço militar, aos 18 anos, quando então recebe de seu pai plena liberdade para seguir o que desejasse. Muda-se então para Lisboa.

imagem de Loureiro
Imagem de Loureiro

De sua infância destacamos dois eventos significativos relatados no Livro Fatos. O primeiro, quando tinha 12 anos de idade, seu pai desejava à viva força interna-lo no Seminário da Senhora da Lapa de Longe onde deveria estudar para se formar Padre; ao que este desobedece.

O segundo nos apresenta Heitor Vaz Pinto de Ataíde Pimentel da Mesquita e Vasconcelos, conhecido como “Heitorzinho, o Justo”, personagem recorrente e importante na história do Sr. Trindade.

Aos 17 anos, Sr. Trindade foi passear em uma povoação no Alto D’Ouro e ali contraiu a maleita, o que era comum naquela região. Os melhores médicos e remédios conhecidos foram adquiridos, para trata-lo. Mas para ele nada serviu. Esgotado este recurso, recorreu-se às benzedeiras, também sem obter o efeito desejado. O rapaz foi enfraquecendo, até pouco e mal ficar em pé. Todos diziam que no outono ele morreria. E os parentes e amigos começaram a visita-lo como despedida.

Certa noite, quando todos já dormiam, a doença o atacou violentamente, fazendo-o pular na cama como um doido, até cair no chão e não se mexer mais. Sua mãe, ao seu lado, pedia à Deus misericórdia e compaixão para ele. A certa altura ela diz ao filho: “Por que não pedes ao Santo Heitorzinho? ” E o rapaz responde: “Por que não pedes a senhora? ” E a mãe diz: “Já pedi e ele não me atende” E ele então reza e a seguir vai para o alto e cai sem sentidos. Todos a sua volta pensam que o mesmo havia morrido e providenciam uma vela para por em sua mão, quando este faz um gesto com as mãos que estava vivo. Ao melhorar diz: “Foi Heitorzinho que nos pegou nas mãos para fazer o sinal”. O rapaz então recuperou-se totalmente.

Aos 18 anos foi para Lisboa onde com árdua luta tornou-se um próspero comerciante conseguindo amealhar grande fortuna e a atingir notável índice de prosperidade. Na capital lusitana viveu intensamente no seio da sociedade entre literatos e membros da corte. Fez sólida amizade com o então rei D. Carlos que lhe dá livre acesso ao palácio, onde constantemente visitava e discutia ideias políticas e sociais.

Portugal estava vivendo uma fase conturbada de sua história devido à fermentação das ideias republicanas. Antônio J. Trindade é convidado pelos líderes do movimento para concorrer a uma cadeira de deputado na nova república, ao que ele recusa preferindo manter sua lealdade para com o rei.

Em 1 de fevereiro de 1908 ocorre levante contra a coroa portuguesa onde são feridos mortalmente D. Carlos e o príncipe real Luís Felipe. Inicia o reinado do seu filho Manuel II. O Sr. Antônio J. Trindade por não ter aderido às ideias republicanas em formação é perseguido e decide-se mudar para o Brasil.

Em maio de 1909 chega ao Rio de Janeiro designado como adido cultural, apresenta-se no Consulado de Portugal.

Visita várias cidades do estado do Rio de Janeiro com o objetivo de conhecer e proferir conferências literárias, onde discute relações entre Brasil e Portugal e o momento político.

Em junho de 1910, com o objetivo de escrever um livro sobre o Brasil, começa a fazer inúmeras viagens de norte ao sul do país. Neste mesmo ano, no mês de outubro acontece em Portugal a deposição do então rei D. Manuel II e institui-se a república.

O Sr. Antônio J. Trindade é convidado a conhecer São Paulo e algumas cidades do interior, dentre elas, Santos. Em Santos, profere conferências literárias no Real Centro Português, onde conhece as principais figuras da Colônia em Santos como também as nacionais dentre entre estes, Sr. Afonso Serra, que faz sua apresentação política com quem trava sólida amizade.

Através de Serra, toma conhecimento do Espiritismo pela obra “Livro dos Espíritos”, onde inicia seu estudo aprofundado da obra completa de Allan Kardec. Como nos relata, Sr. Trindade: “Feita a leitura dos livros de Allan Kardec, um novo horizonte começava a devassar-se para nós, insondável, longo, muito longo a perder-se na imensidão do tempo e do espaço...”

imagem de Alvorada de uma nova Era
Alvorada d'Uma Nova Era

Resolve então voltar a Santos, para ver se podia conhecer tudo aquilo que era teoria no campo da prática. Sr. Afonso Serra o leva a assistir algumas sessões espíritas. Na segunda sessão é convidado a discursar sobre o Livre Arbítrio, o que faz com maestria. E o espírito lhe pergunta “Quando estareis disposto a tomar vosso lugar na seara que acabais de abordar? ”.

O Sr. Antônio J. Trindade nos anos seguintes se aprofunda no estudo do Espiritismo, frequentando várias sessões, sempre questionando sua prática. É alertado pelos espíritos que ele não está no caminho do Espiritismo por acaso, e que deve abraçar a Causa.

Ocorre sua conversão ao Espiritismo, abandonou todas as tentadoras ofertas que poderiam proporcionar-lhe a aquisição de enorme fortuna material para dedicar-se inteiramente às lides espirituais, tornando-se um trabalhador dos mais infatigáveis.

Em 1916 já é um notável estudioso do Espiritismo. Reconhecido como grande conhecedor do tema, Antônio J. Trindade é convidado a fazer um ciclo de conferências em São Paulo, explicando o que era a mediunidade em geral e em particular a de Carlos Mirabelli.

Realizam-se várias conferências sobre os fenômenos espíritas, como os espíritos atuam na matéria, sobre os encarnados, para que estes fenômenos se produzam. Essas conferências foram de notório sucesso conforme publicado nos jornais da época.

Em decorrência da eficiência das explicações científicas, Antônio J. Trindade é convidado a fazer algumas demonstrações sobre a prática espírita que se realizam no salão da União Espírita do Estado de São Paulo, onde dá-se as primeiras sessões práticas e as primeiras curas feitas em público.

Exemplifica com atos toda a sua doutrina. E mais uma vez doa tudo de si em prol de todos. Realiza inúmeros milagres, mostrando que Aquele que o enviara, o investira de poderes para tal, tudo para a glória de Deus e remissão dos homens.

Funda esta casa, Sinagoga Espírita, em 31 de agosto de 1916, como Escola para ensino e prática não só da doutrina codificada pelo mestre de Lyon, mas principalmente a doutrina deixada pelo Mestre maior, o Rabi da Galileia.

Edifica hospitais e sanatórios para cuidar dos enfermos do corpo e da alma. Cria a Cozinha dos Pobres para mitigar a fome de todo aquele que ali aportasse. Estrutura o laboratório e a farmácia, fabricando e distribuindo remédios.

Institui “O Natal dos Pobres” onde em dezembro distribui-se um farto natal a centenas de famílias necessitadas: cada família recebe aproximadamente 20kg de mantimentos, além cinco mil réis em dinheiro.

Editou entre as décadas de 30 e 50 a revista “Alvorada d’uma Nova Era”, os livros “Não Matarás” e “Fatos – Subsídio para a História do Espiritismo”, que é “o caminho aos que querem por a mão no arado para trabalhar na seara.”

Desencarna em São Paulo, no dia 14 de janeiro de 1962, viveu entre nós 79 anos e seis meses deixando-nos a grande legado de conhecimentos e exemplos, não nos deixando órfãos, pois sentimos sua presença entre nós diuturnamente; cabendo-nos, acolhidos sob esta casa, continuarmos sua obra.


Bibliografia

  1. Revista Alvorada d’Uma Nova Era – Suplemento, Ano 1, nº 1, publicado em 01 de dezembro de 1932 – São Paulo – SP
  2. Jornal Unificação da USE, Ano XIV, Nº 163, publicado em outubro de 1966, São Paulo – SP
  3. Trindade, Antônio José, Fatos – Subsídios para a história o espiritismo, 1947, São Paulo – SP
  4. Trindade, Antônio Jose, Não Matarás, 1930, 2ª edição, São Paulo - SP
  5. Quinto, José Palestra Antônio J. Trindade
  6. Quinto, José Palestra Aniversário da Sinagoga 90 anos em 26 de agosto de 2006
  7. Folder Comemorativo de 85 anos da Sinagoga Espírita Nova Jerusalém, 2001.