Fundada em 1916 por Antônio J. Trindade
É pelos frutos que se conhece a árvore. Assim nos ensina Cristo no Evangelho. E olhando para trás nestes 100 anos que a Sinagoga está prestes a completar podemos ver os frutos que produziu e então, saber de que árvore estamos falando.
O sr. Antônio J. Trindade é um manancial de exemplos e virtudes a serem incessantemente perseguidas.
Comecemos pelo episódio contado no livro Fatos – Subsídios para a história do Espiritismo, quando jovem, doente pela maleita, diz que Heitorzinho tinha vindo para curá-lo. Conta-nos inclusive que foi Heitorzinho quem havia levantado sua mão para indicar que ele estava vivo e bem.
Isso nos mostra que desde sua juventude ele interagia com espíritos. Com certeza ele vivenciou eventos que não eram comuns, que não se sucedia com todo mundo. Percebendo estes fenômenos, embora não os explicasse, se resguardou e respeitou as intuições porque para ele acontecia naturalmente.
No momento em que ele tem conhecimento da obra de Kardec, conta que um novo mundo se abriu, que devorou todas suas obras. Então, a codificação de Kardec foi a chave para seu autoconhecimento. Estudar fez com que todos os fenômenos que haviam acontecido com ele até então passassem a fazer sentido e tivessem uma explicação lógica. É porisso que no livro Fatos relata que quando toma conhecimento do mundo dos espíritos, ele passa a rever todos os acontecimentos ocorridos desde a infância e vê quantas coisas que não tinham explicação e que agora podiam ser entendidos pela influência de um mundo superior.
Em 1916 o Sr. Antônio J. Trindade é motivado a abrir uma casa espírita com a proposta de ensinar seus métodos de condução da atividade espírita. Oras, até o momento não existia uma metodologia para funcionamento de uma casa espírita. Os cientistas buscavam provas para explicar os fenômenos espíritas; se reuniam para presenciar fenômenos e estudá-los à luz do entendimento que tinham.
A Sinagoga desde a sua fundação se destina a prestar assistência espiritual e material a todos os necessitados, estabelecendo então o Norte de como deve ser uma casa espírita: deve ser uma casa pronta para atender a todos os indivíduos independente do credo, raça e religião.
O entendimento de como deve ser a caridade foi ampliado em 1921, quando ele finalmente realiza seu ideal construindo a Nova Jerusalém e a Cozinha dos Pobres. Assim, aprendemos que nossa assistência ao próximo deve ser de total desprendimento, abnegação e doação. Na Sinagoga Espírita Nova Jerusalém, além da assistência jurídica e odontológica que a antiga Sinagoga fazia, amplia sua obra com a distribuição de alimentos, roupas e a instituição do “Natal dos Pobres” onde se distribuía mantimentos, brinquedos para as crianças, além de ajuda em espécie. Deste modo, pratica-se o acolhimento, a empatia e cultiva-se a alegria do Natal.
No frontispício da Sinagoga encontrava-se o seguinte texto do evangelho: “Pedi e obtereis; batei e abrir-se-vos-a”. Assim ele cria uma casa que está pronta para amparar a todos os necessitados, quer sejam do corpo, quer sejam do espírito, para que as pessoas possam se emancipar vencendo as dificuldades da vida para seguir livremente o caminho da evolução.
Outro importante trabalho da Sinagoga é o “julgamento dos mortos e a doutrinação dos vivos”. Neste aspecto ela é ímpar: é dado aos espíritos esclarecimento de seu estado, para aqueles que estão perdidos. E também é dado um novo caminho para aqueles que se encontram no erro e se arrependem verdadeiramente; um caminho na virtude, para que sigam a verdadeira vocação do espírito: evoluir.
Ao mesmo tempo é mostrado para os encarnados o que é a vida dos espíritos – a pessoa desencarnada é a mesma pessoa: com suas virtudes e defeitos. A vida dos mortos é continuação a esta nossa vida.
Esclarece-se que tudo que fazemos tem consequência no futuro: O que aprendemos com Kardec sobre a Lei de Causa e Efeito, agora se mostra clara e cristalina: vemos através dos trabalhos práticos que nossa vida do outro lado é a consequência de nossos atos aqui enquanto encarnados.
Vemos os efeitos do nosso livre arbítrio. Tema esse que o Sr. Antônio J. Trindade nos mostra no livro Fatos: ainda quando ele trilhava o caminho para a Seara, faz uma explanação a respeito do livre Arbítrio, nos ensinando que este é a arma que Deus dá aos homens para se tornarem anjos ou demônios. Cita vários exemplos de figuras da Bíblia que tomaram ações que o engrandeceram ou não. Assim, aprendemos que o livre arbítrio é fato e que é justamente pela liberdade que temos nos nossos atos que podemos ser julgados. Claro, porque se não tivéssemos escolha, se nossa vida fosse sempre pré-determinada, não poderíamos ser julgados pois não tendo escolha, não somos responsáveis. Ao passo que aprendemos que a justiça de Deus é ampla, clara e irrefutável: colhemos estritamente o que plantamos.
Assim ampliamos nosso entendimento sobre os mecanismos da nossa existência: ninguém tem menos ou mais do que merece. Não podemos atribuir as mazelas humanas a terceiros como Deus ou o diabo; estes nos mostra o caminho do bem e do mal, mas quem decide por onde trilhar somos nós.
Assim, a Sinagoga nos mostra que Deus é uma figura ímpar, que não está descrita em nenhuma filosofia ou religião.
Kardec, no livro dos Espíritos, nas perguntas 1 a 4 questiona quem é Deus e de onde provém sua existência. Conclui que Deus está fora da natureza humana. Como se Deus habitasse em uma casa que não fosse o Universo. Porque como Deus criou o mundo, ele não estava dentro dele. Assim, Deus vem antes do Universo.
Kardec nos ensina que para provar que Deus existe, basta olhar ao nosso redor e perguntarmos: “quem fez isso”? Aquilo que não foi obra das mãos do homem é obra de Deus.
Nas perguntas de 100 a 113 o Livro dos Espíritos nos relata os graus de perfeição dos espíritos: desde sua criação simples e ignorante até seguir todos os graus da perfeição.
No último grau da escala da perfeição Kardec diz que por mais que o espírito evolua, ele sempre estará separado de Deus. Deus ainda é o ser que ordena e os espíritos evoluídos são mensageiros de sua ordem. Assim, na nossa extrema evolução, não chegamos a Deus, apenas nos aproximamos dele.
Na Sinagoga apreendemos outra máxima, aquela que está na nossa entrada que diz “Depurando sempre até chegar a Deus”. Esta frase é retirada do artigo “Espiritismo Cientifico” de Alvorada d’Uma Nova Era.
Este artigo vem nos mostrar uma nova concepção de Deus. Resumidamente temos:
A partir de um grande éter, suas partes começam a se individualizar. Estas partes são os espíritos. Estes espíritos, que são parte individualizada deste éter, começam a seguir o caminho de aprendizado e aperfeiçoamento.
Os primeiros espíritos que atingem um alto grau de perfeição chamamos de Deus. Então, Deus, “é o conjunto das humanidades evoluídas, representados pela suprema sabedoria, supremo amor e supremo poder”.
Assim, esta individualização do éter é contínua, sempre criando novos espíritos individualizados que começam o caminho para a perfeição.
Deste modo, Deus não está fora da Natureza. Deus é o ser inteligente, que vivenciou, conheceu e evoluiu; tem o poder de manipular os elementos da natureza quando necessário, mas está sujeito sempre ao poder desta mesma natureza.
Assim, o que diferencia o ser mais ignorante do mais evoluído é o conhecimento e a moral.
Esta é nossa missão, aprender, conhecermos a nós e ao mundo que nos cerca. Isso está completamente dentro do que Cristo nos ensinou: ajudar ao próximo para que ele aprenda e evolua; assim, nós também estamos crescendo e evoluindo.
A evolução em Cristo só faz sentido se todos crescerem juntos e essa é nossa missão: ajudarmos uns aos outros para seguirmos neste longo caminho de evolução.
A Sinagoga nestes 100 anos apresenta-se como a luz que ilumina o caminho para o aprimoramento de todos os seres para a chegada na Nova Jerusalém, que é esta morada que os espíritos evoluídos fazem jus. Lá está a perfeição, a suprema luz da sabedoria, a água da vida, o lar dos justos.
Bibliografia