Fundada em 1916 por Antônio J. Trindade
A cada vez que acontece alguma grande tragédia quando muitas pessoas morrem, ou ficam desabrigadas ou são tem sua família destruída, sempre recorrem ao: “por que Deus permitiu isso?”
Vivemos em grandes centros e somos reféns da violência, quando por vez ou outra escutamos que algum inocente foi vítima de algum criminoso irado, sem que nada possamos fazer para evitar; ou quando foi uma pessoa próxima e querida que sofreu violência sem que pudesse se defender. Nesta hora perguntamos “por que Deus permitiu isso?”
Quando alguém que conhecemos sofre uma doença incurável e fica anos e anos sofrendo com dores, as pessoas perguntam “como Deus pode permitir isso a uma pessoa que sempre foi tão boa”?
Há pessoas que olham a história do holocausto, com milhões de mortos, e perguntam como o mal pôde vencer por tanto tempo causando tanta dor, “por que Deus permitiu isso?”
E podemos ainda acrescentar a revolução socialista russa que matou mais gente que o nazismo ou as inúmeras guerras civis que ocorreram na Europa, na Irlanda, ou ainda nos países africanos, onde irmãos matavam irmãos.
E a pergunta que sempre paira no ar é “por que”?
A questão começa porque queremos sempre encontrar uma explicação para as coisas que acontecem. O ser humano é assim. Não importa se a resposta é boa ou a resposta é absurda. Precisamos aplacar a nossa angustia de não sabermos tudo, de não sabermos o todo, de não sabermos o porquê das coisas.
Nosso melhor exemplo foi a criação de mitos e rituais do homem primitivo para explica os fenômenos da natureza, que eles não entendiam, porque havia períodos de seca, períodos de chuva, porque haviam os raios – que quando caiam incendiavam, matavam etc.
E o homem evoluiu e entrou uma figura de divindade mais lapidada e chamou-o simplesmente de Deus. Óbvio que o nome tem uma gama de variações mas vamos nos ater simplesmente a Deus, que nos veio através da tradição judaico-cristã.
O Deus que nos vem plasmado é a figura de um ser superior, uma figura que foi criadora dos céus e da Terra, uma figura que é só amor, bondade, compaixão e força; que vence seus inimigos através de seu pulso forte e que distribui amor e paz aos seus seguidores.
Esta figura de Deus foi moldada pela junção de relatos da bíblia do Velho Testamento, do Novo Testamento e de outros livros também considerados “santos” como a Talmud, Cabala, as encíclicas papais, etc. Todos vão dando contorno a uma figura que embora ninguém tivesse visto ou conhecido, falam dele ou por ele.
Assim, voltamos a nossa pergunta inicial: sendo Deus, o todo-poderoso, que é só amor, sendo ele criador e cuidador da Terra e dos céus, então porque ele deixa que aconteçam desgraças, violências, sofrimentos e etc?
Li uma justificativa de um site que se intitula “cristão” a esta pergunta dizendo que “Deus fez o mundo sem sofrimento. Todos os anjos e tudo o que tinham sido criadas viviam em harmonia com Deus. Havia Paz. Alegria. Perfeição.” Entretanto em certo momento apareceu Satanás, que era um anjo que queria ser Deus e então, com ele apareceu o pecado. A partir dai Satanás é a justificativa de todas as coisas ruins que acontecem.
Os Testemunhas de Jeová acreditam que Deus é o Senhor nos céus; a Terra é lugar sob domínio de Satanás. Então eles dizem que a gente só pode encontrar a paz se formos para o céu. Logo, está tudo certo, a Terra é lugar de dor, sofrimento e necessidades porque o mundo é de Satanás; então o crente deve se ligar a Jeová para ter a paz prometida lá nos céus.
Particularmente não vejo nenhuma diferença entre “o mito do homem primitivo sobre o deus trovão” e o “mito de Satanás” para explicar o funcionamento das coisas.
Se temos como fundamentos essas crenças, ficará muito difícil mesmo explicar como Deus permite o sofrimento – porque coloca em seu colo toda a responsabilidade sobre as coisas. E mais, tira Deus da própria natureza humana. Seria como se ele fosse um ser fora da nossa existência, tipo um super-herói que não é igual aos demais mortais.
É óbvio que Deus não está de acordo com o sofrimento; nem tampouco coma violência, com a degradação e com a pequenez. Mas existe uma luz que somente o espiritismo veio trazer: a lei de causa e efeito.
A explicação sobre o pecado que é pessoal e intransferível de cada ser e remonta desde as mais antiga época é a melhor explicação sobre as diferenças individuais. A explicação é a “falta do passado”, de cada indivíduo que vem para resgatar dívidas anteriores a esta vida.
O espiritismo nos explica que somente nos corrigindo, aos poucos é que vamos trilhando esse caminho da perfeição para chegarmos até Deus.
Desta forma colocamos Deus no seu devido lugar: ele é quem tem o supremo conhecimento e o supremo amor de ensinar aos irmãos menores o caminho para o bem, mas que está no livre-arbítrio de cada um seguir esse caminho ou não; logo, cada um terá como consequência o caminho que trilhou. Deus então são nossos irmãos que já “chegaram lá”, que já depuraram, que seguiram antes o caminho que nós estamos trilhando agora.
Nem porisso vamos deixar também que as pessoas sofram porque “faz parte do seu passado”; vamos tentar a todo custo minimizar o sofrimento de qualquer pessoa - “fazer o bem, sem ver a quem”.
Nossa missão é ter bons pensamentos, ter nosso coração limpo para que nos afastemos do mal; mas sabemos que nem todo sofrimento evitaremos.
Aprendemos que “Deus não prometeu tirar nosso sofrimento”, mas estar conosco para nos ajudar:
Lucas 9:23 E Jesus proclamava às multidões: “Se alguém deseja seguir-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz dia após dia, e caminhe após mim.
Mateus 11: 28-30 Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.
Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.
Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.
Bibliografia