Fundada em 1916 por Antônio J. Trindade
No Livro “Fatos – Subsídios para a História do Espiritismo”, o Sr. Antônio J. Trindade faz um especial destaque a um personagem; não porque tenha ocupado muito do livro, mas que apareceu em momentos-chave em sua biografia.
Trata-se de Heitorzinho – Heitor Vaz Pinto d’Ataíde Pimentel de Mesquita e Vasconcelos.
Heitorzinho nasceu na mesma cidade do Sr. Trindade. Nasceu em 1818 e faleceu em 1898. Como o Sr. Trindade nasceu em 1882, então o Sr. Trindade tinha 16 anos quando Heitorzinho faleceu.
No livro ele é citado em três momentos – primeiro o Sr. Trindade narra um fato que aconteceu com eles em que Heitorzinho já havia falecido – provavelmente 1899.
Neste episódio, o Sr. Trindade havia contraído maleita ou malária. É uma doença bastante grave causada por uma parasita chamada Plasmodium, que se aloja nos glóbulos vermelhos do sangue, transmitida pela mordida de um mosquito infectado. Caracteriza-se por acessos periódicos de calafrios e febre que coincidem com a destruição maciça de hemácias.
Imaginem numa época e numa região sem grandes recursos médicos – sem antibióticos, este tipo de doença era morte certa.
Então, em um momento de crise, em que a família já o dava como morto, o Sr. Trindade conta que pediu a Heitorzinho para ajudá-lo. Então, ele dá um grande pulo da cama e cai desfalecido. Quando se julgava estar morto, ele movimenta a mão, dando um aceno.
Ele conta depois que foi Heitorzinho que havia vindo para curá-lo, sendo inclusive o aceno feito pelo Heitorzinho que lhe tomou a mão.
O Segundo acontecimento dá-se já na fase adulta, com o Sr. Trindade no Brasil.
“Certa ocasião, o Sr. Trindade fora convidado a ir para o Rio de Janeiro trabalhar no Jornal do Comércio. Porém, o diretor foi protelando semana a semana o início da contratação, até que se desentenderam e o Sr. Trindade foi embora. Porém tal acontecimento ocasionou que o Sr. Trindade contraiu despesas e não tinha com o que paga-las.”
“Uma noite, o Sr. Trindade dava tratos a bola como conseguir dinheiro, quando ouviu uma voz que lhe disse: Não tens em tua mala os desenhos do calendário para cem anos? Sim, respondemos. E a voz: Pois vai vende-lo. Assim passou a noite, até as oito horas da manhã, quando tomou o bonde e foi para a cidade.
Durante a viagem o Sr. Trindade lembrou-se da promessa que fizera ao espírito na sessão espírita em Santos, que só abraçaria a Causa, na hora em que se considerasse a coberto das necessidades. Foi também nessa hora que se lembrou de Heitorzinho, o justo de Loureiro que conhecêramos em vida, que nos abençoara e dissera a seu pai, que filho, daria ao pai muita honra um dia.”
“Elevando o pensamento a Heitorzinho, diz: - se é certo que lá do alto onde deveis estar, conheceis nossas necessidades e nossa intenção, tirai-nos hoje dos apuros em que nos vemos, que nós aqui à fé de nosso Deus, vos afirmamos, que hoje mesmo também iremos assistir à primeira sessão e que enquanto vivos estivermos, jamais nos afastaremos da Seara do Senhor. Ele sentiu-se envolvido por uma coisa agradável, indescritível. Ele começou a tremer e a chorar, o que chamou a atenção dos passageiros do bonde.”
“Desceu do bonde e inconscientemente perguntou: e agora o que fazemos? E veio a resposta: Vá para a Praça 15 de Novembro. Lá chegando perguntamos novamente: e agora? Toma a rua 25 de Março. E assim foi sendo dirigido até a Companhia de Lotéricas Nacionais do Brasil, quando perguntou: fazer o que?
- Não queres vender o calendário?
- E quanto devemos pedir?
- O que quiseres.
“O Sr. Trindade entrou no prédio e quando foi atendido pelo gerente, mostrou-lhe o trabalho, ele gostou do trabalho e chamou o Conselheiro Antônio Olinto que elogiou o trabalho e se propôs a compra-lo. Acertado o preço, o Sr. Trindade recebeu como sinal a quantia de dois contos de réis que na época era muito dinheiro.
Eis ai mais um milagre de Heitorzinho.”
Senhores, Heitorzinho não foi importante apenas para o Sr. Trindade. Numa rápida pesquisa encontramos os rastros do que Heitorzinho deixou aos outros cidadãos de Loureiro.
Na história oficial de Loureiro consta:
“Em Loureiro nasceu o asceta Heitor Vaz Pinto d’ Atayde Dá Mesquita e Vasconcelos, da família dos donos da Quinta de Loureiro. Esta figura marcante e reverenciada da freguesia desistiu de prosseguir os seus estudos na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra para se dedicar a Deus e ajudar os desfavorecidos e doentes. Esta decisão foi tomada aos vinte anos de idade e, desde então, o povo recorria a ele em todos os momentos de aflição. (...) Permanece na memória das gentes da freguesia que todos os anos realizam uma festa em sua honra.”
O Prof. Antônio Manuel Silva Alves nos conta que Heitorzinho, mesmo não sendo reconhecido como Santo oficialmente pela igreja tem muitas obras em sua homenagem:
“Heitorzinho és nossa glória!
Cantemos em alta voz:
na Terra tu és memória;
No céu tu pedes por nós!”
Cristo disse: “Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte. E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Ao contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa.” (Mateus 5, 14-15). Assim é a passagem de certas pessoas nesta Terra: não vieram para passarem desapercebidas.
Em seu túmulo estão as seguintes inscrições:
“Por este caminho
Passou uma cruz.
Era o Heitorizinho
A Imitar Jesus”
E se o amor de Heitorzinho contagiou o coração das pessoas de Loureiro, não foi diferente com o Sr Trindade, que ainda faz a terceira menção a ele, na abertura do livro Fatos:
“A Heitorizinho, ao qual devemos as páginas mais belas deste humilde trabalho. Amigo e conservo perante o Senhor, conservo nas lutas que nos une desde as mais remotas noites dos séculos”.
Bibliografia