Há uma passagem do evangelho que diz assim: “E todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado; mas ao que houver blasfemado contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado.” Lucas, 12, 10.

Esta passagem está descrita em 3 evangelistas: Marcos, Mateus e Lucas, o que dá um ar de confiabilidade. Porque sabemos que Marcos e Lucas são cristãos convertidos que conhecem a história por “ouvir falar”, mas Mateus era discípulo, então ele deve ter ouvido mesmo.

Enfim, essa passagem faz um contraponto de dois elementos: é uma comparação de duas fatores: “Filho do Homem” e “Espírito Santo”.

Vamos analisar os fatores.

“Filho do Homem” era uma expressão judaica que em princípio significava apenas que era “o homem”. Qualquer pessoa humana, era “filho do homem”.

Mas o profeta Daniel no capítulo 7 fala o seguinte:

Assim, como a partir de Daniel ele está dizendo que o Messias viria “semelhante ao filho do Homem”, então essa designação passou a se referir ao Messias.

E no novo Testamento, então, no Cristianismo Filho do Homem passou a ser o próprio Jesus.

E o Espírito Santo?

Para os judeus, Deus se chama Jeová, mas é um ente super distante e misterioso, difícil de ser entendido, apesar de ter aparecido em tantos relatos do Velho Testamento para os patriarcas. Ele é tão místico que o nome dele é impronunciável, tanto que Jeová é referido apenas com as 4 letras, o tetragrama: YHWH.

Para o catolicismo “O Espírito Santo é a terceira “pessoa” da Trindade, ou seja, de Deus. ”O Espírito Santo é a parte de Deus que age diretamente no mundo e na vida do crente. É Ele que permite o contato direto com Deus.” Logo a figura do espírito Santo que é quem age, quem faz, quem tem ação. Seria como “os braços” de Deus. Se ele é quem age, então as qualidades de Deus, que é suprema força, suprema bondade, supremo perdão e todas as boas qualidades, estamos dizendo que isso é o Espírito Santo: todas essas qualidades juntas.

Voltando ao Evangelho, temos as duas figuras: “Filho do Homem” e “Espírito Santo”; este é a parte subjetiva, é a filosofia, é a Causa; e aquele é uma figura encarnada, concreta que age em nome de Deus (e do Espírito Santo).

Espírito Santo é a o símbolo de uma força maior, criadora, que nos ampara, que nos protege, que é a Causa primária de todas as coisas, que é o que nos motiva a agir, a fazer o bem porque é onde inexoravelmente vamos chegar, porque “somos condenados a evoluir”.

E “o filho do homem”, que podemos dizer que é Jesus, mas todos aqueles que estão aqui para espalhar os ensinamentos de Deus, todos os que estão aqui para ajudar os “irmão menores” a seguir o caminho e progredirem.

E por que é diferente blasfemar contra um ou contra outro? Não deveria ser a mesma coisa? Blasfemar não é errado?

O que é Blasfêmia: Na enciclopédia “Blasfêmia é a difamação do nome de um ou mais deuses. Isto pode incluir o uso de nomes sagrados em expressões vulgares ou imprecações, sem a intenção de rezar, ou falar de assuntos sagrados sem reverência.”

No dicionário: Enunciado ou palavra que insulta a divindade, a religião ou o que é considerado sagrado. Por extensão, “palavra, expressão ou afirmação que insulta ou ofende o que é considerado digno de respeito ou reverência.”

E difamar, significa: falar mal; detrair ou ainda desacreditar(-se) publicamente; fazer perder ou perder a boa fama ou a reputação; infamar(-se).

Agora vamos colocar isso nos seus devidos pesos. Existem as pessoas que são representantes do sagrado aqui na Terra. São aqueles enviados que pregam em nome de Deus.

Se nós não acreditarmos neles, se difamarmos a eles, se pregarmos contra essas pessoas, ou até fizermos isso para o próprio Jesus Cristo, apesar de ser um erro, será perdoado. Nós estamos vendo a pessoa, estamos vendo o humano e disso depende nossos sentidos que são falhos, nossos preceitos e preconceitos; além de que como humano a pessoa pode falhar também. Duvidar da pessoa tem o elemento de material, que pode nos confundir entre o que é a pessoa e o que ela representa.

Mas difamar a divindade é um erro tão grande que esse não pode ser perdoado, quer dizer que vai ter que se pagar por este pecado.

Sabemos que Deus é um conceito abstrato, mas a ação dele é bastante concreta. A gente vê sua ação na natureza, na condução das ações, no movimento que a natureza promove, no inesperado que acontece que ora beneficia, ora prejudica alguém. Deus é aquele que faz que seja cumprida a justiça, faz com que se cumpra a lei de Causa e Efeito, a Lei da Compensação e todas as outras que faz com que percebamos que é bom e válido fazer o bem, fazer o que é puro e justo.

Talvez não percebemos em alguém a presença de Deus; isso é possível porque depende de nossos sentidos (que são falhos) perceber isso. Mas observar a condução da vida e ver as coisas boas acontecerem, ver as pessoas que fazem o bem serem recompensadas e as que fazem o mal serem punidas não depende de nossos sentidos falhos e sim da nossa percepção, da nossa Boa Vontade e querermos progredir.

Essa, a gente não pode negar porque é uma crença que nós interiorizamos pela vivência, pela observação, pelo aprendizado e é única, pessoa e intransferível. E Jesus ainda completa no próprio capitulo 12 de Lucas dizendo:

Claro que devemos trocar a palavra “temer” por “respeitar”. Podemos não acreditar em nada disso, mas temos que ter a humildade de reconhecer que existe esse poder maior; caso contrário estamos nos colocando num lugar indevido.

E por fim podemos lembrar da nossa ata que diz que muitas provas serão fornecidas para que as pessoas creiam na ação de Deus. Porém lamenta por “ai daqueles que tudo vendo isso ainda olham para trás.”, ou seja, duvidam, não crêem de desmerecem. Isso não tem desculpa.